ARCEBISPO DA PARAÍBA !!!!

Virtude e liberdade

Artigo de Dom Aldo para o Jornal da Paraíba 

Uma das características da sociedade pós-moderna é a autoafirmação, a busca pela autonomia e independência em relação aos valores e às virtudes. O que é virtude? No sentido literal, virtude significa força para agir. No sentido ético e moral significa ânimo, vetor, energia, élan, atitude proativa para o bem. Virtude cristã significa a força da graça de Deus que cada um de nós necessita para realizar o plano de amor que o Senhor destina para os seus filhos e filhas. Praticar uma virtude significa exercitar-se para se despojar dos próprios defeitos e se esforçar para adquirir hábitos sadios, vitais para o corpo e para o espírito. Há virtudes consideradas essenciais (cardiais) que nos levam a integrar permanentemente a temperança, a fortaleza, a prudência, a justiça. 

A mentalidade dominante da sociedade pragmática, mercantilizada, desconsidera as virtudes. O valor referencial da sociedade de consumo é o dinheiro e todo tipo de vantagens lucrativas, incluindo o prazer, a vaidade, a exterioridade, a ostentação. As virtudes cristãs quando não ridicularizadas, são relegadas. Quem acredita na virtude da obediência, da humildade, da castidade, da disciplina, enfim, de um estilo de vida sóbrio, simples, saudável? Hoje cada qual elabora suas crenças e valores, seu código de comportamento ético, seus relacionamentos livres e descomplexados. Entretanto, as virtudes humanas e cristãs são habilidades básicas para uma sólida formação de caráter.

Hoje, falar em obediência significa provocar e irritar alguém, equiparando-se a uma ofensa pessoal.  A priori, se discrimina e se manipula o conceito de obediência, representada como herança de um passado autoritário a ser superado, e não uma virtude cristã. Obediência, ordem, autoridade, disciplina, são propositalmente ideologizados, confundidos como imposição, censura, opressão, ditadura. Entretanto, a ótica cristã contempla a virtude da obediência como uma força viva, nascida do amor de Deus, encontrando nele a sua legitimidade e seu itinerário rumo ao discernimento entre um e outro bem. Obediência significa escuta, discernimento em função do cumprimento da vontade de Deus. Obediência se conjuga com liberdade interior e exterior. 

Jesus é modelo de obediência serviçal ao Pai, a favor da humanidade. Maria, mãe do Mestre, é referência de obediência como sua discípula. Por dádiva do Senhor e opção pessoal, os cristãos obedecem para construir um mundo melhor. Em Jesus e Maria a humanidade aprende a dispor da própria liberdade, interior e exterior, como compromisso incondicional, gratuito, generoso, pronto para assumir toda boa obra. 

Dom Aldo Pagotto, sss
Arcebispo Metropolitano da Paraíba