quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

PAPA FRANCISCO


“Papa Francisco colocou com força a Igreja em movimento”


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Cidade do Vaticano (RV) - A renúncia de Bento XVI, a eleição do Papa Francisco. 2013 foi um ano extraordinário para a vida na Igreja. Para fazer um balanço de todos estes acontecimentos, justamente a partir do gesto profético de Bento XVI, a Rádio Vaticano entrevistou seu Diretor e também da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi:

R: ”Foi uma escolha que marcou este ano e continuará a marcar também as próximas épocas da Igreja. Eu penso, de fato, que terá suas consequências no que diz respeito aos próximos pontificados. É uma abertura de caminho, digamos, de uma possibilidade, que, como bem dizia Bento – justamente na sua motivação à renúncia – está ligada também aos tempos que nós estamos vivendo. Não tanto, então, a uma simples situação pessoal, mas sim à inserção nos tempos com a aceleração, o acúmulo dos problemas que são colocados. E isto foi percebido pelo Papa com grande lucidez e com grande humildade, justamente para dar a possibilidade de uma direção, que ele definiu como de renovado vigor à Igreja. Coisa que efetivamente aconteceu, e aconteceu de um modo impressionante e inesperado”.
RV: O Papa Francisco tornou-se, em pouquíssimo tempo, uma figura familiar a nível mundial e, o que chama a atenção, não somente entre os cristãos. É possível fazer um balanço ou ao menos encontrar uma chave de leitura para estes seus primeiros nove meses de pontificado?
R: ”Certamente, a resposta aos gestos e palavras do Papa Francisco no mundo de hoje é absolutamente impressionante. Eu penso que tenha respondido a uma espera profunda permanente de toda humanidade, que é aquela da necessidade, do desejo de amor da humanidade, do perdão, de uma relação sincera, da proximidade no confortar e no encorajamento. Portanto, algo que tocou os acordes mais profundos da sensibilidade e da personalidade humana em geral, porque isso realmente operou em todos os continentes, em todos os países, em todas as diferentes situações da vida dos homens e mulheres do nosso tempo. Eu acredito que a leitura mais simples seja também a mais verdadeira, isto é, ter concentrado o anúncio no amor de Deus, na sua misericórdia, na sua proximidade a todos, no desejo do bem e da salvação para todas as suas criaturas. É algo que foi entendido e foi também entendido pela eficiência dos gestos e das palavras simples como foram ditas. A abolição, então, das barreiras entre a pessoa do Papa e as pessoas que ele encontrou foi entendido com simplicidade e de forma direta por todos. Eu acredito que pode ser lida assim esta correspondência. O Papa responde, porque interpreta efetivamente o amor de Deus Pai por todas as suas criaturas”.
RV: Desde os primeiros gestos e as primeiras palavras, o Papa Francisco suscitou expectativas imensas, no âmbito eclesial e não somente. O que se pode esperar para o próximo ano, também pensando nas importantes reuniões do Conselho dos Oito?
R: ”Eu acredito que nós devemos esperar que este grande impulso de renovação, de eficiência do anúncio da mensagem essencial que o Papa Francisco operou, possa difundir-se na Igreja, porque por agora é algo que nós vemos em Roma, que é muito concentrado em volta de sua pessoa; mesmo que saibamos que em muitos países do mundo as pessoas voltaram a confessar-se, a participar das celebrações religiosas. Existe, portanto, um difundir-se como uma onda deste efeito de proximidade do amor de Deus por meio da Igreja. Isto, porém, é desenvolvido: deve tornar-se verdadeiramente um pouco o estilo com que a Igreja anuncia. E o Papa Francisco, num certo sentido, dá um exemplo, dá um modelo de relação pastoral, que posteriormente é difundido e que deve tornar-se habitual, um pouco em todas as partes da Igreja. Isto é o que devemos esperar. As fatídicas mudanças estruturais, as reformas de que tanto se fala servem enquanto ajudam isto, isto é, enquanto as estruturas, os instrumentos ou as organizações estão efetivamente a serviço do Espírito e do anúncio de Evangelho. Isto é o que o Papa Francisco entende como reforma: fazer com que os instrumentos e as estruturas tornem-se mais adaptadas à missão da Igreja; missão da Igreja de anúncio do Evangelho e do anúncio até as fronteiras deste mundo, às periferias de que ele tanto fala, na relação com os pobres, com as pessoas que têm mais necessidade da proximidade do amor do Senhor e do testemunho de Deus. Eis então, o que podemos esperar que o Conselho dos oito Cardeais ou outras consultas possam obter. No meu modo de ver, porém, deve ser absolutamente claro que é um aspecto secundário, um aspecto que vem depois e à serviço do “primum”, que é o anúncio do Evangelho e a missão da Igreja. Isto está à caminho. O Papa deu início à diversas consultas, diversas comissões para tornar mais transparente, mais eficaz o testemunho das estruturas, mesmo no que diz respeito ao Vaticano, às suas estruturas administrativas. O problema verdadeiro, porém, é o da relação entre o Espírito e os seus instrumentos de expressão: as estruturas e as organizações”.
RV: Francisco é o primeiro Papa jesuíta da história. O que representa para o senhor estar entre os seus mais estreitos colaboradores; o que lhe está dando pessoalmente o Santo Padre?
R: ”Eu vejo uma sintonia muito profunda entre a espiritualidade do Papa e o seu modo de guiar a Igreja e a espiritualidade inaciana, isto, sobretudo no sentido de estar a caminho, no buscar e encontrar a cada dia a vontade de Deus, para servi-Lo melhor e para realizar aquilo que os jesuítas chamam como a sua maior glória, isto é, o mais profundo conhecimento do amor de Deus e traduzir na nossa vida esta profunda relação do amor entre Deus e o homem e entre os homens entre eles. Portanto, o Papa Francisco, efetivamente, colocou a Igreja a caminho, com grande força, e a colocou a caminho com o seu exemplo, o seu empenho e também com tantas mensagens e iniciativas. Pensemos ao novo Sínodo sobre a família; pensemos também ao encorajamento em renovar a Igreja e também em a vida concretamente. Assim, o fato de estar sempre a caminho, para procurar encontrar coisas novas, que Deus pede a nós na nossa situação, na nossa vida, é algo que caracteriza profundamente, me parece, a espiritualidade e o modo de governo do Papa Francisco. Entramos em uma situação em que a Igreja foi colocada em movimento. Não são apresentados objetivos precisos, imagens precisas de como deverá ser organizada a Igreja amanhã para chegar a este objetivo. Devemos nos colocar a caminho, devemos nos converter, devemos acolher as surpresas que Deus nos faz na nossa vida e entender para onde Ele nos está chamando, também por meio das situações e realidades em que nos encontramos. Portanto, o sentido da Igreja que entra em movimento, num caminho, que é peregrina, no cumprir sua missão, me parece que seja um dos aspectos espiritualmente mais característicos deste Pontificado”.(JE)

Fonte: News.va

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