segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O que espero de 2014


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Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil


Não sei se alguém teve o cuidado de guardar jornais e revistas do final de 2012 ou do começo de 2013. Se guardou, verifique as previsões de astrólogos, futurólogos, adivinhos e tarólogos para o ano de 2013. É claro que algumas acabaram acontecendo, dada a quantidade de previsões que foram feitas. Outras, de tão gerais, serviriam para qualquer ano, de qualquer década e em qualquer país. Dou alguns exemplos: “A economia do Brasil passará por períodos de turbulência!” Sem dúvida, estamos diante de uma grande verdade, pois isso realmente aconteceu neste ano que passou. Mas alguém duvida que o mesmo acontecerá em 2014, em 2015, em 2016 etc?... “Morrerá um grande artista!” Convenhamos que não faltam artistas neste nosso país e um ou outro acaba morrendo. Quanto ao ser “grande”, é questão de opinião. As mães, por exemplo, sempre acham que seus filhos são “grandes artistas”... “Poderá cair um avião entre maio e agosto, causando comoção nacional” O verbo dizia tudo: “poderá”; se não caiu, é possível que o adivinho se apresente como aquele que evitou o desastre, pois preveniu as autoridades aeronáuticas, que passaram a ser mais cuidadosas em suas decisões... Quem achar que estou exagerando em meus comentários, que faça um teste: recorte e guarde jornais e revistas dos últimos dias de 2013 e do começo deste novo ano, com previsões, e confira-os no começo do próximo ano.
O pensamento da Igreja Católica sobre adivinhações, numerologia etc. está sintetizado no “Catecismo da Igreja Católica”: “Deus pode revelar o futuro a seus profetas ou a outros santos. Todavia, a atitude cristã correta consiste em entregar-se, com confiança, nas mãos da Providência no que tange ao futuro, e em abandonar toda curiosidade doentia a este respeito” (n. 2115). Mais: “Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõem “descobrir” o futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, juntamente com o desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus” (n. 2116).
O futuro não se prevê; se constrói. Colheremos o que tivermos semeado. Quem semeia amor, justiça e paz, colhe os frutos correspondentes. O autor do livro dos Provérbios, lá pelo século quarto antes de Cristo, dizia: “Quem semeia a justiça terá a recompensa condigna” (Pr 11,18b). Já quem semeia egoísmo, inveja e vaidade, acaba colhendo o que é fácil de imaginar. O profeta Oséias (séc. VIII aC), advertia: “Semeiam ventos, hão de colher tempestades!” (Os 8,7).
O que espero de 2014? Em nível internacional, que “descubramos” a África, onde milhões de irmãos nossos estão morrendo de fome e de doenças, e ninguém toma conhecimento disso.Sem a ajuda do mundo ocidental, os países africanos não superarão seus problemas. Por sinal, muito do que está acontecendo por lá tem como causa a exploração que sofreram, durante séculos, por parte de algumas grandes potências da atualidade.  Espero que na América Latina diminuam as distâncias entre as classes sociais, para que haja pão na mesa de todos, casa, saúde e emprego para cada filho deste continente. Em nível nacional, espero que a mensagem de Jesus Cristo penetre em corações que ainda não o conhecem, para que o Evangelho esteja na base de suas decisões. Quanto à Arquidiocese de São Salvador da Bahia: espero que as famílias sejam apoiadas, fortalecidas e promovidas, porque uma sociedade depende das famílias que a compõem. Para mim, pessoalmente, desejo especialmente duas grandes graças: a possibilidade de trabalhar com entusiasmo para fazer nascer a esperança nos corações de muitos e o privilégio de poder continuar anunciando, com renovada alegria, que “Deus é amor!”


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